O roteirista e produtor galês Russell T Davies (Queer as Folk, A Very English Scandal e uns dos responsáveis pela ressurreição em 2005 de Doctor Who) é o grande cérebro por trás de Years and Years, drama distópico que têm muito a dizer sobre onde estamos e para onde vamos.
Years and Years, drama de seis partes produzido e transmitido pela BBC One e HBO, segue três gerações de uma família de Manchester, os Lyons, de 2019 a 2034. Acompanhamos a vida pessoal dos irmãos Stephen (conselheiro financeiro e homem de família amoroso, interpretado por Rory Kinnear); Daniel (Russell Tovey), um agente habitacional que percebe que seu marido Ralph não é o homem com quem deveria ter se casado; Rosie (uma mãe solteira divertida, sem nenhum dos estereótipos que isso implica - ela tem espinha bífida - interpretada pela brilhante Ruth Madeley); e a ativista política Edith (interpretada por Jessica Hynes); juntamente com vários parentes e sua avó Muriel (Anne Reid). Além disso, a série também acompanha Viviene Rook (Emma Thompson), uma candidata a primeira-ministra do Reino Unido que faz fortes declarações durante um debate televisivo, dando início a uma campanha apresentada ao longo da série.
Muitos dramas britânicos, principalmente dramas familiares, têm dificuldades com o elenco inclusivo, mas em Years and Years, Davies se esforça para evitar isso e não apenas em torno da representação racial. O elenco diverso da série retrata com fidelidade a sociedade atual onde a miscigenação é aceita no ambiente familiar - com leves traços racistas - porque se compartilha códigos genéticos.
A série, cuja transmissão foi proibida na China logo após os primeiros episódios, tem como objetivo claro provocar os telespectadores misturando questões políticas e sociais, novas tecnologias e fortes laços familiares. Years and Years possui um ritmo alucinante que gera um certo desconforto. Assim como na vida real, não há tempo para absorver e refletir adequadamente todas as opiniões, acontecimentos e reviravoltas que são bombardeadas na tela. Russell T Davies acredita na capacidade intelectual do espectador: tanto que, de modo informal, algumas informações são compartilhadas ao longo da história. O que apenas aumenta o incômodo, pois temos que perceber a lacuna entre a maneira como os personagens estão se comportando e o significado do que está acontecendo com eles.
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Years and Years não foi um grande sucesso no Reino Unido, apesar do poder da estrela de Emma Thompson, e pode estar correndo o risco de não fazer tanto sucesso assim no resto do mundo. Mas merece atenção, pois quantas séries conseguem deixar claro de forma simples o impacto dos eventos internacionais na vida dos indivíduos? (Imagem: BBC/HBO) |
Não apenas o roteiro de Years and Years é responsável por tornar a saga da família Lyons uma experiência aflitiva, como a edição de imagens e trilha sonora (que em alguns momentos lembra a soundtrack da série Sherlock) ajudam a construir uma expressão aterrorizada. É quase impossível não terminar os episódios com uma angústia e ansiedade perante o futuro retratado, cuja probabilidade de se concretizar na realidade nos deixa apavorados.
Apesar de ter amado Years and Years, seria muito irresponsável da minha parte deixar de fora o fato de que se você sofre de ansiedade e se o atual panorama político lhe é fonte de angústia e terror a série será uma fonte de gatilho imensa. Mesmos momentos de comédia foram feitos para gerar desconforto, como quando Rosie descobre que seu date faz sexo com um robô ou quando é revelado que em 2026 ainda existem franquias familiares da cultura pop, como Toy Story: Resurrection, mas neste Woody é queimado até a morte e as crianças podem ter pesadelos se assistirem. Ou seja, mesmo quando faz piada de algo, Years and Years é uma experiência instigante que pode gerar pesadelos em adultos.
Years and Years: o drama distópico de Russell T Davies é angustiante
Reviewed by Elilyan
on
julho 11, 2019
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